Banco de Leite Humano e Mudanças Climáticas

O que podemos fazer a mais?

Reflexões sobre vivências no enfrentamento às emergências sanitárias

O leite materno é um determinante para a saúde do ser humano com reflexos por toda avida

Além de nutrir a criança nos primeiros dias e meses após o nascimento, diminui os riscos da ocorrência de doenças infectocontagiosas, previne a má nutrição em suas diferentes formas, favorece o desenvolvimento do Quociente de Inteligência (QI) e reduz a incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

Essas constatações, que configuram uma unanimidade no meio científico, apresentam contornos ainda de maior relevância quando o foco se volta para os recém-nascidos prematuros e de baixo peso. Nesses casos, mais do que um alimento, o leite humano passa a ser um fator de sobrevivência e os Bancos de Leite Humano (BLH) constituem ação estratégica de segurança alimentar e nutricional, voltada para a garantia de acesso e de qualidade desse alimento funcional.

Há quatro décadas, o Brasil desenvolve soluções inovadoras para BLH nos laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Essa iniciativa pioneira permitiu a construção e a manutenção de uma das mais complexas Redes de Bancos de Leite Humano (rBLH) do mundo; assim reconhecida em diversas oportunidades por distintos organismos das Nações Unidas. Uma ação estratégica do Estado Brasileiro, cuja institucionalização reflete uma sinergia emblemática no âmbito da política de saúde, por sua dimensão interinstitucional e intersetorial:

Ministério da Saúde: a) Fiocruz, que a coordena e retroalimenta técnica e cientificamente; b) Departamento de Gestão do Cuidado Integral - Coordenação-Geral de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e Jovens, responsável pela formulação e implementação da política pública para o setor; c) Assessoria de Assuntos Internacionais em Saúde, responsável pela articulação com os Ministérios de Saúde dos Países Cooperantes;

Ministério das Relações Exteriores - Agência Brasileira de Cooperação, que apoia e coordena a cooperação técnica internacional, como iniciativa do estado Brasileiro, viabilizando uma associação global nas Regiões das Américas, Caribe, Península Ibérica e África;

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde das Unidades Federativas do Brasil e os serviços de saúde que as integram.

Nessa articulação intersetorial, a participação da OPS/OMS tem sido decisiva no contexto da saúde global, merecendo ênfase o fato do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), responsável pela coordenação da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, sediar o único Centro Colaborador para BLHs no mundo, o BRA-87. Essa união de esforços impulsionou o alinhamento dos compromissos da estratégia Rede Global de Bancos de Leite Humano aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, particularmente no que tange as metas 3.2 e 3.4 do ODS3.

Cumpre destacar que, em 2025, a cidade de Belém do Pará, Brasil, sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Na oportunidade, as principais lideranças e coletivos climáticos se reunirão para buscar soluções para o Planeta. Nesta edição, o Brasil terá a responsabilidade de impulsionar compromissos e ações concretas sobre a questão climática.

A COP30 e os Bancos de Leite Humano compartilham um objetivo comum: a construção de um futuro mais sustentável e saudável para todos. Enquanto a COP busca soluções globais para a crise climática, os BLHs trabalham incansavelmente para garantir que os bebês mais vulneráveis tenham acesso ao alimento mais completo, nutritivo e sustentável que existe. Juntos, esses esforços representam um compromisso com a vida e o bem-estar das futuras gerações.

Em 2025, ao celebrar o Dia Mundial de Doação de Leite Humano, o Dia 19 de maio, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano visualiza na COP30 uma excelente oportunidade de reiterar o significado do leite humano como um alimento sustentável e de baixo custo, em perfeita consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. No que diz respeito à alimentação digna e de qualidade, é propício relembrar a importância do leite humano como alimento padrão ouro, que salva vidas de recém-nascidos e lactentes, aspecto por vezes oculto em inúmeros debates mais amplos sobre a fome.

As situações de emergência sanitária ocorridas em 2024, enfrentadas pelo setor saúde em diferentes regiões do globo, elevaram a preocupação da adoção de posturas mais proativas. A capacidade de resposta apresentada pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano para transpor as barreiras impostas nas inundações ocorridas na Região Sul do Brasil, mais especificamente na cidade de Porto Alegre - Rio Grande do Sul, foi emblemática. Mobilizar todos os Bancos de Leite Humano existentes no Sistema Único de Saúde Brasileiro e atuar de forma coordenada com a Força Aérea Brasileira, permitiu prover com leite humano as Unidades de Terapia Neonatal. Mais do que uma experiência exitosa de atuação emergencial da rBLH, essa união de esforços é inspiradora e nos impulsiona na direção de construir estratégias de intervenção que nos permitam - “vir a tempo”.

Essa inquietude mobilizadora, aliada ao compromisso histórico da rBLH na construção de soluções inovadoras para a sociedade brasileira, nos levou a formular a proposta do presente evento.

6 e 7 de maio de 2025 – Belém do Pará